quinta-feira, 16 de agosto de 2012

A língua estrangeira no contexto escolar

  O que esperamos alcançar com o ensino da leitura e da produção de textos em espanhol no Ensino Básico? Antes de adentrarmos propriamente a temática central deste texto, entendemos que caberia colocar em cena uma indagação prévia: qual o papel das Línguas Estrangeiras (LE) na escola? Julgamos necessário retomar brevemente esse debate porque entendemos que a abordagem das competências
de leitura e de escrita possui relações com os objetivos mais amplos do seu ensino e da própria Educação Básica

 Os documentos vigentes que orientam o currículo escolar, Parâmetros Curriculares Nacionais (MEC/SEF, 1998) e Orientações Curriculares para o Ensino Médio (MEC/SEB, 2006), embora distintos
1 Segundo Freitas (2010, p. 74) “a Ergologia é um estudo das atividades humanas que coloca os trabalhadores no centro da produção de conhecimento sobre o trabalho. Um de seus fundamentos é o dispositivo de três pólos. Trata-se de um espaço epistemológico que é resultado da negociação entre saberes, atividades e valores. Assim, a Ergologia é uma disciplina sinérgica, na qual ocorre uma dinâmica entre três elementos centrais. O primeiro é o pólo das disciplinas acadêmicas, com seus conceitos, métodos e formulações. O segundo pólo é o das forças de convocação e reconvocação, que são os saberes gerados nas atividades pelos trabalhadores que constroem saberes investidos nas ações e respostas às prescrições. O terceiro é o pólo da disciplina ergológica, com suas exigências éticas e epistemológicas comrelação à análise do trabalho”. No texto de Del Carmen Daher e Vera Sant’Anna,na primeira parte deste livro, aborda-se essa questão.em diversos aspectos, coincidem na atribuição às LE do papel de propiciar ao aluno a ampliação do domínio ativo do discurso em diferentes comunidades e situações discursivas. Assim, espera-se que o discente aumente a sua autopercepção como ser humano e seu amplo exercício da cidadania. Com relação a esse aspecto, os Temas Transversais (PCN, 1998) – ética, pluralidade cultural, meio ambiente, saúde,  orientação sexual e trabalho e consumo – ocupam um papel fundamental pois encaminham as escolhas temáticas das aulas em direção a questões políticas e sociais relevantes.
              
   Segundo os documentos citados, a natureza da linguagem é ao mesmo tempo social e cognitiva. Entendem o uso da língua como uma prática social entre sujeitos que ocupam papéis historicamente marcados. Desse ponto de vista, diríamos que ensinar línguas é mais do que ampliar a possibilidade de o indivíduo se comunicar em diferentes veículos e formatos. É, sobretudo, nosso compromisso como educadores linguísticos, ensinar a interagir discursivamente em tempos e espaços distintos, viabilizando a produção de novos sentidos e de novos textos.
 
  A opção, após a promulgação da atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1996), da parametrização dos currículos em lugar da imposição de diretrizes, evita a determinação de métodos ou conteúdos específicos que o professor deva implementar na escola. Rompe-se, assim, com uma visão, que hoje ainda é fundamentalmente difundida pelos cursos de idiomas, que entende o ensino de línguas como o emprego fiel de metodologias padronizadas. O fato é que, cada vez mais, inscreve-se com melhor nitidez, pelo menos nos estudos e documentos vigentes, a necessidade de superação de tal perspectiva e a insistência no papel da LE na escola subordinado a um objetivo educacional mais amplo. Segundo a Leide Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1996), espera-se alcançar, ao término desse nível escolar a formação intelectual, ética, crítica que permita ao aluno seguir seus estudos, inserir-se no mercado de trabalho e exercer a sua cidadania.Abrindo mão da apresentação de modelos didáticos prontos para ensinar uma língua estrangeira, os Parâmetros e Orientações Curriculares que norteiam o currículo da Educação Básica defendem uma visão de ensino pautada nos pilares da interdisciplinaridadee da transversalidade. Não cabe, portanto, conceber essa disciplina isoladamente. 
 
  É preciso, sobretudo, identificar a sua relação com os outros saberes escolares, fazendo da aula um espaço de aprendizagem que vai além da sistematização linguística. É, justamente, a articulação de saberes que possibilitará ao aluno engajar-se discursivamente e, ao mesmo tempo, ampliar as suas práticas discursivasem diferentes contextos. A interrelação mais evidente e necessária é aquela que se dá entre língua materna e línguas estrangeiras, considerando o papel que devem representar para a expansão do letramento do estudante
     .
 Portanto, em busca da ruptura com a tradicional concepção de “alfabetização” em uma dada língua, a proposta educativa dos letramentos múltiplos faz-se também presente no ensino de LE, deixando de conceber a leitura e a escrita como meras habilidades de decodificar e codificar em uma língua para vê-las como práticas sociais relacionadas a diferentes contextos sociais. Sob esse ponto de vista, cabe à escola propiciar ao aluno um vasto leque de possibilidades de uso da língua, o que nos remete, em uma dada perspectiva de linguagem, ao conceito bakhtiniano de gênero do discurso(BAKHTIN, 2003; VOLOSHINOV, 2009). 
      Assim sendo, teceremos,a seguir, algumas considerações sobre a importância do estudo dos
gêneros no ensino da LE na escola.

       Secretaria de educação básica, 2010.292p.: il.(coleção   explorando o ensino; v.16. Cap. 10 (p.192,193,194)

Um comentário:

  1. Exacto, no somos traductores google sino sujetos activos y pensantes. Excelente artículo...

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